terça-feira, 4 de outubro de 2011

Projeto Parque da Tamarineira

PROPOSTA VENCEDORA DO 1º LUGAR DO CONCURSO NACIONAL DE PROJETOS PARA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE DA TAMARINEIRA 
 Memorial Descritivo

Referência nacional em serviços psiquiátricos desde fins do século XIX, o Hospital Ulisses Pernambucano e seu lote densamente arborizado confundem-se com a história e a paisagem da Zona Norte do Recife. A evolução dos estudos médicos, as exigências da Reforma Psiquiátrica e o interesse de diversos setores da sociedade em apropriar-se daquele espaço levam este conjunto a um momento de transformação: o Parque da Tamarineira, agora desapropriado, tem o compromisso de abrir-se à cidade, desmistificar a loucura e oferecer à população lazer, cultura e educação ambiental, tudo isto convivendo com atividades hospitalares.



A fim de evitar a segregação espacial e garantir comunicação fluida e direta, as intervenções realizadas buscam clarificar a leitura do Parque e das construções históricas mais significativas através da remoção de barreiras e anexos sem qualidade arquitetônica. Dois grandes eixos se estendem desde a entrada principal do Parque até a Matinha, funcionando como largos passeios públicos. Entre estes eixos, um labirinto de vegetação arbustiva faz alusão à complexidade dos mistérios da mente humana e constitui-se num expressivo elemento visual e paisagístico do projeto. Sua estrutura abrigará obras de arte, bancos, espelho d’água e peças interativas que estimularão o caminhar e a descoberta.

Campanha de um Hospital Psiquiátrico - África do Sul


Perspectiva frontal do Parque

Extensos gramados remontam a antiga atmosfera de Sítio, de Pomar Urbano, enquanto playgrounds e equipamentos destinados à prática de exercícios físicos dão dinâmica aos diversos setores do Parque. O edifício do antigo CPTRA foi transformada na Casa do Bem Estar, com atividades para Saúde Integral e a Casa Paroquial, em uma livraria e lanchonete.


Para o setor hospitalar, a solução proposta foi a criação de um "Corredor da Saúde" voltado aos enfermos do CPTRA, da Emergência Psiquiátrica do Hospital Ulysses Pernambucano e ao Hospital Helena Moura. Este núcleo voltado à Av. Cônego Barata compreendendo três novos edifícios. O 1º e o 2º são intervenções em ruínas existentes onde funcionará a nova emergência e o 3º servirá ao CPTRA, com dois pavimentos e um estacionamento semi-enterrado com capacidade para 124 vagas para atender ao Parque, apesar de não possuir ligação direta ao Hospital.

Perfil dos edifícios históricos e novo conjunto hospitalar à esquerda

O principal conjunto arquitetônico, obra do arquiteto francês Victor Fournié, construída entre 1874 e 1883, possui 4 blocos organizados em cruz com espaçamentos em suas extremidades. Esses blocos serão restaurados e abrigarão os seguintes equipamentos:

- Museu da Tamarineira, que exibirá ao público a história do antigo Hospital, além de peças da Santa Casa de Misericórdia;
- Museu Sensorial de Arte Contemporânea, que abrigará exposições relativas às temáticas entre arte, corpo e mente;
- Centro de Convivência de Saúde Mental, espaço previsto no plano de Reforma Psiquiátrica;
- Salas para atividades vinculadas às Universidades;
- Cinemateca;  
- Biblioteca;
- Auditório (175 pessoas); e
- Pavilhão da Sustentabilidade.

Este último e novo edifício, construído nas proporções de seu traçado original, além de abrigar exposições sobre sustentabilidade e meio ambiente, será um exemplo prático de construção sustentável, tendo sido planejado com base na metodologia de avaliação ambiental de edifícios LEED - Leadership Environmental Energy Design.




Exemplo de fechamento móvel em painéis de bambu

Pátio Central

A sustentabilidade foi um aspecto que permeou este projeto como um todo. A área posterior, chamada Matinha, é um exemplar valioso na cidade onde a biodiversidade se manteve preservada durante décadas. Dessa forma, a área será palco de um programa de educação ambiental, onde haverá uma passarela de madeira que conduz ao observatório elevado, o qual servirá também como apoio às atividades educativas. Preservando as árvores existentes, foram criadas trilhas, estrutura para arborismo, sementeira e composteira no local para tratamento dos próprios resíduos.

Estrutura de passeio acima do solo natural - preservação da Matinha
Foi observado em visitas e estudos da área que o Sítio da Tamarineira possui uma característica que não se pode ocultar - a presença de um corpo dágua e de áreas alagadiças, assim como foi no passado.

“O sítio escolhido chamava-se Tamarineira, no Lugar Matinha, freguesia da Graça (...). Patrimônio dos órfãos da Santa Casa, ocupava uma área arborizada em parte e em parte alagada”. Oração do psiquiatra, Ulysses Pernambucano
  Área alagada após chuvas de julho em 2011
Canal sub-dimensionado atravessa o sítio, ora embutido, ora aparente
O que em princípio pareceu ser um problema tornou-se um dos partidos do projeto uma vez que a proposta foi a reabertura do canal hoje embutido, chamado Jacarezinho, através de sua requalificação, despoluição de suas águas e redesenho da paisagem conforme seu traçado original, ou seja, em solo natural e vegetado.

Exemplo bem sucedido de revitalização de um canal urbano em Seul
Ao longo do “Riacho do Jacarezinho” um passeio, acessível e em desenho universal, interliga os acessos da Av. Rosa e Silva ao acesso da Av. Norte intercalado por pérgolas de madeira e bambu. O muro que limita o Parque neste trecho recebeu tratamento através de jardins verticais e painéis para instalações artísticas nas quais seriam registradas as conquistas socioambientais da população através dos tempos. Neste “Corredor da Cidadania” a conquista da Tamarineira merece especial destaque, uma vez que se trata de um dos mais importantes marcos históricos do avanço da consciencia socioambiental no Recife.
Abraço à Tamarineira em manifesto contra a construção do shopping em 2010 
Sob o aspecto urbanístico, o Parque Público da Tamarineira deverá fazer parte da rota de integração de parques, prevendo a ampliação da rede pública de parques e sua conexão com o Plano de Parques Municipal e o Projeto Capibaribe Melhor. Sugere-se a criação de rotas lindeiras à margem norte do Capibaribe, associadas e compartilhadas a modais não motorizados, o que inclui a melhoria da circulação de pe­destres e o incentivo ao uso de bicicletas como equipamento de deslocamento. O foco principal desta integração é promover melhoria significativa na qualidade de vida e estimular a apro­priação do espaço público pela população recifense.

 


Este texto foi escrito pelos integrantes da equipe autora do projeto vencedor do concurso:
Carmen Cavalcanti, Celso Vinícius, Christoph Jung, Luciana Raposo, Manuela Maia e Mariana Ribas






Implantação do Parque

A Tamarineira e o Futuro da Cidade - Parte II

Neste sábado, a caminho do Parque Dona Lindu para receber o prêmio de 1º lugar do Concurso Nacional de Projeto para implantação do Parque da Tamarineira, emoção, ansiedade e euforia tomavam conta de mim, nem dirigir conseguia, falar...muito mal... tudo passava na minha cabeça ao mesmo tempo após o telefonema de Manu:  “Lu, vem logo para cá, o nosso painel está bem na frente, eu acho que a gente vai ganha...” Ai ai...coração a mil e ainda a caminho recebo a confirmação: “É 1º lugar!!! É 1º lugar!!!” Haaaaaaaaaaaaaaaaa!!! (Gritos)
Neste loooooongo caminho até BV voltei no tempo e me senti novamente naquela primeira reunião com os Amigos da Tamarineira, em março de 2010 quando eu e Carmen adentramos pela primeira vez aqueles obscuros portões... Mal sabíamos que um novo destino para aquela área estava ali se desenhando... e para nós também.
Saí de lá tão surpresa e sensibilizada com tudo o que vi e ouvi, que na mesma noite escrevi um email para alguns amigos como forma de desabafo (ver pôster anterior). Ocorreu, contudo que o artigo ganhou repercussão em massa tendo sido publicado em blogs e mídias sociais.
Por  acidente, ou destino, me tornei ativista do movimento, tendo participado de reuniões, audiência pública e organizado eventos e campanhas contra a construção do shopping e a favor de um parque público que não excluísse as atividades de saúde.

A cada dia, inúmeros emails chegavam a minha caixa. A maioria para apoiar o movimento, outros para criticar, acusar e dizer que tudo aquilo era só perda de tempo. Enfim, como tempo era meu, o empreguei como bem entendi e não me arrependo. Ver a cidade se mobilizando, discutindo, se posicionando já era uma conquista. Foi quando comecei a acreditar de fato em uma mudança de postura
No dia 5 de junho os “Amigos da Tamarineira” organizaram um evento no local com o objetivo de reforçar a causa em plena Semana do Meio Ambiente. Na véspera deste dia, contudo, em evento aberto ao público, no Parque da jaqueira o Prefeito do Recife anunciou, em ato histórico, a desapropriação da área e o lançamento de um concurso público para a construção de um parque com base no desejo da sociedade #oDonaLinduEnsina!

No meio daquela gritaria, só ouvia a voz de Pat Vasconcellos em resposta ao anúncio: “ E quem vai ganhar é Luciana Raposo!!!” hehhehehehehe É claro que estávamos todos muito felizes e que com certeza seríamos candidatos ;) Para fechar com chave de ouro, o que era mais um evento de reação, tornou-se uma grande confraternização. A idéia era lermos um manifesto de cobrança ao poder público que se mantinha ausente até então, mas em vez de reinvidicações, estávamos todos comemorando a conquista da cidade harmoniosamente ao som da linda música dos Meninos do Coque. Foi um momento histórico e de muita emoção. O recifense acostumado a apenas criticar e desacreditar de nossas causas comuns teve naquela ocasião um bom exemplo para resgatar seus valores como cidadão.
By ICONO DESIGN

Apenas um ano depois o concurso foi relançado. E em  junho de 2011, enfim, abriram as inscrições. Aquela altura já tínhamos formado uma equipe de primeira linha. Além de mim e Carmen, minha sócia e também gestora ambiental e Manu, nossa parceira e também estudiosa da arquitetura sustentável, juntaram-se a nós Mariana Ribas, aqruieta urbanista, minha chapa desde o tempo da FAUPE, Celso Vinícius, um jovem arquiteto experto em concursos e seu amigo Chris, um paisagista alemão tão competente o quanto. Além dos arquitetos também tivemos várias contribuições de profissionais de áreas distintas, uma vez que a abordagem do trabalho foi multidisciplinar.

Começamos com reuniões semanais lá no escritório e quanto mais se aproximava o prazo, mais intensos ficavam nossos encontros. Aquela altura eu já tinha arengado um monte com Chris, Mari Ribas quase surta para terminar a correção de sua dissertação paralelamente ao concurso, enquanto Celso e Manu  permaneciam centrados como sempre...  E haja desenho, haja debates, pesquisas, visitas, idéias que vão, idéias que voltam... “Essa Tamarineira ainda vai me enlouquecerrrrrrrrrr”...



Na última madrugada, Chris, Mari e Celso amanheceram  trabalhando na casa de Celso. Às 8h estávamos na gráfica para plotar as benditas pranchas e só às 12h56 elas chegaram ao IAB. Yu-huuuuuuuuuuuuu!!! Dever cumprido, agora é só esperar...
Ai, ai, quem disse... fechava os olhos e ainda me via lá dentro. Emendei o turno e ainda fui dar aula até às 10 da noite...Zzzzzzzzzzzzzzz
Noooooooooossa foi uma experiência muito intensa mesmo! Não sei sobre os resultados e idéias dos colegas, mas creio que ninguém viveu a Tamarineira como nós...assim tão no limiar da loucura hehehee :)
Mergulhar na história da Tamarineira foi como percorrer a área através de décadas descobrindo o sentido de cada tijolo que a compõe, de cada árvore que lá está. O resgate de uma memória tão peculiar, resguardada por grades e portões, se desvendou á nossa frente durante este período sob o desafio de captar tais registros e transformá-los em unidade visual e soluções práticas.




Diante deste contexto, a nossa proposta de projeto foi elaborada com base em necessidades reais e no desejo do cidadão recifense quanto ao destino do espaço proposto. Sendo assim, foram trabalhadas soluções em nível do espaço urbano e sua conectividade, do paisagismo e da relação da população com a ecologia urbana e da arquitetura como veículo para melhoria da qualidade de vida de uma cidade. (ver post  memorial proposta)

Compilando diversas disciplinas, necessidades e administrando conflitos, esta proposta reflete o que o Recife deseja para o futuro de suas gerações: respeito, consciência, cuidado. Este é o papel da arquitetura, do paisagismo e urbanismo: melhorar a qualidade de vida das pessoas.


Trabalhar a 12 mãos não foi fácil, mas não posso imaginar este projeto com o mesmo resultado se a equipe não tivesse sido exatamente do jeito que foi. Todos foram imprescindíveis! Agradeço de coração aos meus colegas por suas contribuições e empenho. Agradeço a todos os que acreditaram em nós desde o começo. À minha filhinha Luna porque há tempos prometi este Parque a ela (como símbolo às futuras gerações) e à minha mãe, Fátima Raposo, que sempre me impulsionou a ser melhor, a lutar, a acreditar... mesmo quando todo mundo achava impossível ... Continuamos e Vencemos!

O melhor de tudo é que esta é uma conquista legítima e merecida e não se trata de uma vitória apenas de nossa equipe, mas de uma cidade inteira! Depois da Tomada da Tamarineira, percebo um certo empoderamento do recifense como cidadão.  Acho que este sentimento não é só meu, pois observei várias matérias que saíram na mídia sobre o avanço da consciência ecológica em nossa cidade. Sabemos que agora será uma nova etapa e que nossa luta não pára por aqui.
Muitas águas vão rolar, mas uma coisa para mim já é certa: depois da Tamarineira, esta cidade não será mais a mesma.
" O que for a profundeza do teu ser, Assim será teu desejo.

O que for o teu Desejo, Assim será tua Vontade.

O que for a tua Vontade, Assim serão teus Atos.

O que forem teus Atos, Assim será teu DESTINO."

(B. Upanishad IV, 4.5)





Manu, celso, Mari, Eu e Carmen ... e abaixo: Christoph Jung


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Tamarineira e o Futuro da Cidade

Artigo escrito em março de 2010.


Semana passada tive uma prova de paciência e equilíbrio zen ao atravessar a nossa cidade de carro quando voltava, esbaforida, do shopping Guararapes até minha casa no Rosarinho. Neste percurso de quase 2h, vim conversando com Carmen sobre o caos do trânsito, o desperdício de tempo, dinheiro, poluição e da possibilidade de um dia eu precisar me mudar daqui para poder ter o direito de ir e vir sem estresse, porque do jeito que a coisa vai, sinceramente, eu acho que em 5 ou 10 anos, o Recife vai parar.
Após a maratona, fomos para a reunião do movimento Amigos da Tamarineira e fiquei passadaaaaaaaaaaaaa com o que vi e ouvi. Primeiro porque descobri que morei mais de 10 anos na rua do Hospital e nunca soube bem o que era , como funcionava e como era por dentro. Cheguei lá por um caminho entre árvores, estacionei em terra batida e me dirigi ao auditório passando por um complexo de belíssimos edifícios em estilo eclético cercado por imensas árvores e um verdadeiro bosque ao fundo que nem dava para ouvir o barulho dos carros na avenida, no máximo alguns insetos e a cantoria de um enfermo que vinha lá do 1° andar. Além das instalações, surpreendente foram os depoimentos de alguns dos mais de 50 participantes do encontro, isso porque mesmo me considerando simpatizante do movimento, não fazia idéia de como as coisas estavam realmente acontecendo. E aí me perguntei: "Como pode numa sociedade tão globalizada e cibernética ainda estarmos tão sem noção dos fatos que acontecem em baixo do nosso nariz?"
Como todos sabem, o Hospital da Tamarineira está, de novo, prestes a virar um shopping. A propósito, "shopping ecológico" (dá para conceber???  Veja no link o quanto: http://acertodecontas.blog.br/atualidades/supostas-imagens-do-shopping-tamarineira/ <http://acertodecontas.blog.br/atualidades/supostas-imagens-do-shopping-tamarineira/> ) Enfim, a polêmica é longa e os relatos, contundentes.  As informações obtidas nesta reunião são importantíssimas, mas é claro que não estão saindo na mídia formal, apenas em alguns blogs e fóruns de discussão na Internet promovidos pela sociedade civil.
Confesso que minha participação como cidadã recifense é muito aquém do que eu gostaria. Passei a faculdade de arquitetura inteira sonhando e planejando uma cidade melhor, mais saudável, igualitária... Nem por isso fui capaz de impedir a derrubada de uma única árvore que sombreava a parada de ônibus da Av Norte, onde eu pegava meu busão na ocasião da construção de um posto de gasolina. Desde então, tenho assistido às transformações desta cidade, a especulação imobiliária e algumas decisões equivocadas do setor público que vêm comprometendo o nosso patrimônio cultural, arquitetônico e ambiental. Sentindo-me  minúscula e impotente para frear estes processos, passei a ter uma atitude mais passiva diante destes jogos de interesses.
Foi neste sentimento, que me chamou a atenção o depoimento de um líder comunitário que estava presente na reunião. Ele mora na Bomba do Hemetério e se abalou para até a Tamarineira, certamente de ônibus, para dar a sua contribuição enquanto os nossos vizinhos nem sequer desceram dos seus prédios para ir andando.  Este rapaz não mora no bairro Tamarineira, mas ele mora no Recife, este é o pensamento. Talvez ele não tenha condições de freqüentar o shopping, mas não é isso que o motiva. Falou da importância e do poder e uma mobilização popular e repetiu as palavras de um político que conheceu: " Não tememos a classe média como às comunidades organizadas. A classe  média  reclama, mas não levanta sua bunda do sofá".
Por isso meus amigos, eu os convido a nos levantarmos do sofá no dia 13 de março, às 9h para a mobilização contra a venda da Tamarineira e em prol de novos projetos para manter o local realmente preservado, público e coletivo.
Quero lembrar que essa não é uma questão de partido político, é transpartidária. Não é uma questão de polêmica, mas de cumprimento da legislação e do direito do cidadão à qualidade de vida. Não é uma questão de religião, mas de ética. Não é uma questão de modismo, mas de sobrevivência. Não importa dizer apenas que é contra ou a favor do empreendimento, é preciso conhecer a realidade que existe lá, como também ouvir e opinar sobre novas propostas.
Precisamos nos mobilizar e usando as ferramentas que nos cabem e no momento, uma boa é conferir o evento deste sábado, marcar presença e fazer barulho, se precisar... O que não pode é continuarmos sentados no sofá permitindo que se atropele (e manipule) a opinião pública para construir torres gêmeas dentro d'água, bolas de concreto no lugar de parque público em atropelo aos desejos dos moradores e contribuintes do Recife.
Que cada um utilize de suas possibilidades para demonstrar resistência, como estão fazendo os Amigos da Tamarineira e outros grupos manisfestos em  pequenas reuniões e através de blogs e twitrs, usando o Youtube, como  fez a moradora do bairro Lucia Passos, no blog Acerto de Contas que filmou, fotografou e publicou uma denúncia de depósito de entulhos na mata da Tamarineira, no link: http://acertodecontas.blog.br/meio-ambiente/leitora-denuncia-que-metralhas-esto-sendo-depositadas-na-mata-da-tamarineira/ <http://acertodecontas.blog.br/meio-ambiente/leitora-denuncia-que-metralhas-esto-sendo-depositadas-na-mata-da-tamarineira/>

Outra contribuição significativa surgiu dos estudantes de arquitetura que, em oposição ao projeto de Niemeyer para o Parque Dona Lindu, projetaram propostas alternativas com base nos critérios que a sociedade desejava, fizeram  painéis e maquetes de parques maravilhosos, só para agitar os moradores para o que poderia ter sido o Parque, e certamente nos custaria bem menos do que os cerca de  R$30 milhões que se gastou no empreendimento. No caso da Tamarineira, em que a negociação ainda está em trâmite, os impactos de uma iniciativa como esta seriam ainda maiores. Sendo assim, por que não envolver os estudantes para propor projetos alternativos de um parque,  apresentar a sociedade, abrir a discussão???

Enfim, ferramentas temos muitas, mas se você está pensando o mesmo que Renan, um amigo que acabou de entrar na minha sala para dizer que pode até ir no sábado, mas sabe que vão construir do mesmo jeito e a gente ainda vai se encontrar lá para tomar sorvete, eu lhes digo que pode até ser, mas que antes disso farei o possível para complicar a vida dessa galera. E tem mais, quem não quiser ir pela causa, que vá para conhecer as instalações e as árvores lindas, centenárias que existem lá, inclusive o Tamarindeiro gigante, que deu nome ao bairro Tamarineira, antes que se transforme num "ecológico" bloco de concreto.


Luciana Raposo
Arquiteta e gestora ambiental
lu@lucianaraposo.arq.br

domingo, 10 de julho de 2011

Movimento"Eu quero nadar no Capibaribe!": o Blog da Ecochata apoia! E você?

Quem foi conferir a Praia do La Greca não se arrependeu, pois mesmo em pleno julho chuvoso o evento promovido pelo movimento "Eu quero nadar no Capibaribe.E você?" foi um sucesso.
Um banho de rio simbólico (mangueira e piscininha), regado a Skol geladíssima, comida de praia, música de primeira e gente bacana espalhada pela areia (grama) mostrou neste domingo, 10, que o recifense está cada vez mais comprometido com as questões ambientais, principalmente quando agregam também cultura, arte e diversão!


Imagina isso tudo na beira do nosso rio?
Parece impossível, mas existem existem experiência de revitalização de rios urbanos muito bem sucedidas no mundo, basta ver o poster anterior deste blog sobre o canal do Arruda 
Irreverência e criatividade!
Fábio, Luna - a pequena cidadã - e as Loucas de Pedra Lilás
Que tal um mergulho?
Jurando que estão na praia...
A barca virou...
Lua, a nova amiguinha de Luna ;)
As festa foi deles...

Fui informada deste evento por e-mail e logo aderi a causa. Conferi-lo de perto foi ainda melhor! 
Do que percebi, a intenção é sobretudo sensibilizar o cidadão... Por enquanto ainda nada de cobranças de mudança da sociedade nem do governo, nada de metas e restrições... Apenas reflexões! 

Achei super válido, afinal é assim que começam as verdadeiras mudanças, dentro da cabeça da gente, ou melhor, em nossos corações!



segunda-feira, 4 de julho de 2011

"Eu Quero Nadar no Capibaribe. E você?"

Praia do La Greca



Venha Tomar um Banho na Praia do La Greca!

Já imaginou poder nadar no Capibaribe?

Então venha compartilhar este sonho com a gente no próximo domingo, 10 de Julho, a partir das 15h, na Praia do La Greca!
Lá, na beira do rio, no jardim do Museu Murillo la Greca, do lado do viaduto, atrás do Shopping Plazza.

No Programa, bebidas geladas, petiscos e guarda sol do Edi, as deliciosas coxinhas de Dona Valéria, os biquines e as bóias das Loucas de Pedra Lilás, a bica do Murillo e seu tapete escorregadio, o Som de Mary Gatis, Roger de Renor e convidados e o que você mais você quiser trazer pra Praia!
Na ocasião será lançada a 2a temporada da série "Eu Quero Nadar no Capibaribe. E você?" que está passando na TVPE e no Youtube.
Então, não se esqueça, domingo, 10 de Julho, é dia de Praia do la Greca!
Traga seu traje de banho e prepare sua toalha!!!!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Paredes Verdes no Recife e no Mundo

Esta semana participei da banca de um tecnólogo em design de interiores que tratou a importância dos "jardins verticais" no design contemporâneo. A contribuição foi bastante interessante, pois de fato temos observado também na nossa cidade alguns exemplares que fazem toda a diferença no bem estar de um ambiente, a exemplo da  reforma do Arcádia de Apipucos e do Restaurante Entre Amigos (projeto do arquiteto Alexandre Mesquita) ambos executados pelo engenheiro agrônomo Marcelo Kozmhinsky. 





Lendo o trabalho de Rogério, recordei de uma matéria muito interessante a respeito, a qual encontrei no blog  http://domescobar.blogspot.com/2010/04/top-10-mais-bonitas-paredes-verdes.html


As paredes verdes abaixo além de surpreendentes esteticamente, também são produto de alta tecnologia, o que viabiliza a sua implementação. Para nós continua sendo um processo bastante artesanal, mas muito válido. Pois os poucos exemplares que vimos por aqui são mesmo de encher os olhos. Quem sabe se ganhar escala industrial não mudamos um pouco a cara de nossa cidade cada vez mais cinzenta...



As 10 paredes verdes mais bonitas do mundo

A parede verde - muitas vezes confundido com um jardim vertical - ou é um monobloco ou parte de um edifício com algum tipo de vegetação, buscando compensar a falta de espaço no terreno. Estas paredes verdes não só adicionam uma graça definitiva para fachada de um edifício, elas também ajudam a filtragem do ar em edifícios. Uma vez que as paredes não necessitam de vida do solo para o seu sustento, um dos pré-requisitos é a água em abundância. Através de um sistema de hidroponia que dependem,as paredes verde podem sustentar quase todos os tipos de crescimentos vegetais.
Veja a seguir, 10 imagens com as mais bonitas paredes verdes:

1.PNC Financial Services Group
Criado por: Mingo Design

2. Louis Vuitton.
Created by: Gas Design Group

3.Edificio Consorcio sede Santiago
Criação:Enrique Browne – Borja Huidobro

4.Jean Nouvel’s Musée du quai Branly
Criação:Patrick Blanc
5.Louis Vuitton.
Criação:Gregory Polletta and Sung Jang

6.The national convention of the American Institute of Architects, Boston.
Criação:Young Architects Boston Group.

7. Edificio comercial Seoul - Coréia
Criação: Mass Studies

8.Ann Demeulemeester Shop
Criação:Mass Studies
9.University of Guelph, Canada
10.Linkebeek, Belgium



Fonte:http://www.greendiary.com


segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canal do Arruda: da lama ao caos, do caos à arte!

Á arte sim, leia-se: à arquitetura de uma nova paisagem no Recife.  Falar de águas em nossa cidade, a famosa Veneza Brasileira é como falar de nossas principais veias e artéria. Pontes e rios, nada mais característico na nossa paisagem!

Como olhar a cidade sem ver o que escorre nessas águas? O que compõe paisagem urbana e como corpos d`água estão presentes no imaginário do recifense? O que seria do Recife sem seus rios?

Questões como estas foram levantadas em nossa disciplina de paisagismo no curso de arquitetura da Faculdade Maurício de Nassau. Em princípio, trabalhamos vários conceitos referentes à paisagem urbana e à sustentabilidade, infra-estrutura verde, percepção ambiental. Depois avaliamos praças e espaços verdes na cidade e no mundo para ampliar conceitos e possibilidades. Por fim, desenvolvemos um trabalho prático de um anteprojeto voltado a REQUALIFICAÇÃO PAISAGÍSTICA DO CANAL DO ARRUDA.

A metodologia abordada considerou além de pesquisas bibliográficas, visitas a campo e entrevistas com a comunidade local e especialistas de áreas afins. A primeira visita em grupo foi acompanhada por dois profissionais que deram uma super contribuição ao trabalho. O primeiro foi o secretário da EMLURB, Fernando Albuquerque que falou sobre a importância dos corpos dágua do Recife, sua manutenção e projetos voltados aos canais e rios da cidade. O segundo, um engenheiro agrônomo e especialista em arborização urbana, Leonardo Rodrigues, o qual acompanhou todo o trajeto debaixo daquele solzão nos explicando  tudo sobre as espécies existentes e propondo a vegetação mais adequada para a área.

Começamos o percurso pelas imediações do campo do Santa Cruz. Quanto mais caminhávamos, pior ficava a situação do Canal: mais lixo, mas depredação, esgoto a céu aberto, ratos, mal cheiro e maaaaaaaaaaaais lixo!!! Nesta percepção, além do óbvio, encontramos também crianças brincavam com os lixos (caixas, telefones coloridos, bonecas sem cabeça!) entre as carroças de catadores; moradores usavam seus "banheiros públicos" improvisados na beira do Canal; casais bebericando nas mesinhas feitas de tronco quase dentro dágua; árvores que comportavam balanço e até uma televisão pendurada - espaço de lazer adaptado pela comunidade... Muito válido! Esse é o olhar de quem se apropria do espaço público e faz dele um indicador de suas necessidades e desejos. Como diria Thiago de Melo (by Pat Vasconcelos) "Faz escuro, mas eu canto". 







Após análise da área, os alunos começaram a desenhar a nova paisagem a partir das informações coletadas. Surgiu, contudo, uma polêmica sobre o partido a ser adotado no projeto. Como atender a comunidade sabendo que há falta de segurança e vandalismo com os equipamentos do entorno? Para quê pensar em algo ideal num local onde as pessoas não tem nem o básico para viver? Se está tão poluído, será que este Canal e os moradores que poluem valorizariam tamanho investimento?

Enfim, as vezes é mesmo difícil para a gente acreditar numa real mudança, já que estamos acostumados a ver tantos projetos dando para trás e tantas áreas que poderiam ser maravilhosas, entregues ao descaso em nossa cidade. Acontece que se a gente pensar assim, aí é que não sairemos do canto! Por isso eu defendo, nem que seja apenas na faculdade, que se pense em projetos de alto nível, com criatividade, tecnologia e conceitos (e não pré-conceitos!)

Depois de toda uma vivência prática, os alunos se debruçaram sobre exemplos bem sucedidos de revitalização de canais no Brasil e em todo o mundo. Para mim, este foi um ponto forte do trabalho porque é a partir deles que começaram a surgir as melhores idéias. Duarte e José trouxeram exemplos de canais no Acre, Espírito Santo e Amsterdã. Vanessa e Paulo trouxeram um exemplo extraordinário de um canal na Coreia do Sul que mudou definitivamente o conceito da turma e certamente, a vida de muitos moradores da cidade de Seul.

O exemplo no vídeo abaixo mostra a transformação de um rio/canal urbano que era poluído e horrível, uma coisa bem alá viadutos de SP passando por cima de um canal escuro, com uma mega estrutura de concreto sobre o leito... Nossa, veja só que mudança!!!


Depois dessa, Rafael ficou sem jeito... Disse que estava envergonhado de mostrar o que havia levado para assessorar. "Mas professora, eu não sabia que podia viajar..." Alo-owwwww e o que vcs pensavam então, que eu esperava uns banquinhos jogados com um estacionamento para bicicletas ao lado?????
Nós queremos é ARTE!  Sei que alguns acreditam que projetos de faculdade devem seguir exatamente a realidade e limitações do local, mas eu sinceramente, acredito que a hora de criar é essa e os projetos devem sim transcender o local e mente das pessoas!  Com a licença poética concedida, a turma avançou bastante no nível das idéias e mesmo com pouco tempo para desenvolvimento, apresentou trabalhos criativos, com bastante conteúdo teórico e propostas provocadoras para o local.

O trabalho foi divida da seguinte forma: 4 grupos zonearam a área total e cada um se aprofundou no projeto à sua zona referente. No geral, a parte escrita seguiu a mesma lógica para todos. Foi considerado que ações conjuntas viabilizariam a proposta geral. Ou seja, que haveria todo um trabalho de despoluição das águas, passando pelos problemas de drenagem, escoamento, manutenção, educação e por aí vai... Uma vez que cada competência proporia suas soluções, a parte que cabe ao arquiteto paisagista seria a elaboração do projeto desta arquitetura de exteriores.





Wilson e Rafa propuseram uma intervenção drástica. Reduziram a calha do canal na parte onde se alarga de modo a acompanhar a dimensão anterior e evitar erosão. Com o espaço que sobrou, criaram vários equipamentos e mobiliários urbanos. Mudaram a vegetação, reformaram as pontes, investiram em iluminação, lazer e esporte tirando partido do desnível existente naquele trecho. Até mesmo uma quadra sobre o canal foi lançada! (mandou viajar, agora aguente :P) 

Paulinho e Vanessa não se contentado com os pilares-monstros do Arrudão, criaram um grande painel vazado com ferro fundido e material reciclado interligando-os e através de um rebaixo no piso, criaram um espaço para exposições de grafiteiros das comunidades circunvizinhas. Assim acreditam que além de transformar uma agressão à paisagem em uma obra de arte, também estariam valorizando a cultura local, o que contribui para a preservação do local.

Duarte e José se aprofundaram na especificação de mobiliário urbano eficiente e sustentável e no detalhe dos canteiros, especificando a vegetação conforme orientação do nosso amigo Léo Rodrigues.

Jéssica, Manuella e Mariana propuseram uma intervenção na Praça A. Luiz, a qual fica às margens do canal e é bastante utilizada pela comunidade para jogos de futebol, lazer das crianças e apresentações culturais como maracatus da região. Sendo assim, lançaram mão de uma elementos como:  uma fonte, escultura, quiosques, anfiteatro, playground e wcs + apoio.

Assim concluímos a disciplina. Acredito que mesmo as dificuldades encontradas no caminho, conseguimos atingir o seu objetivo. Conversamos bastante, trocamos idéias e por viajamos por mundos diferentes, mas sobretudo, mundos possíveis! Resta agora ampliar este debate para a sociedade... Para que vislumbrem novas possibilidades para a nossa cidade... Para que se manifestem de alguma forma para mudar, para crescer, para melhorar de alguma forma o nosso espaço coletivo. Este é o papel de um arquiteto. Este é o papel de um cidadão.