sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Construindo um Escritório mais Sustentável

Após dez anos trabalhando num coletivo de arquitetos, designs e jornalistas na simpática Casa 275, em Casa Forte, novos projetos e necessidades me fizeram buscar uma área com mais espaço e identidade própria. Foi quando, em setembro de 2012, mudei meu escritório para a SALA 117, no primeiro andar do Shopping Parnamirim.


O local já era bem agradável e amplo, mas precisava de uma boa arrumada para ficar com a cara de um Escritório de Arquitetura e Gestão Ambiental.  A sala de 50m² em dois pavimentos tinha alguns problemas para resolver: um buraco na laje; tomadas expostas; um lay out de copa mal resolvido e uma vitrine voltada ao poente e sem  aberturas para cruzamento de ar.

Parede dos fundos:baixa iluminação natural e
impossibilidade de cruzamento de ar
Vista do pav. superior: abertura na laje impossibilita eficiência do
ar condicionado e interindependencia de espaços
Fiz então uma reforminha básica - que não por eu ser arquiteta impediu de ter contratempos – considerando o complemento da laje, abertura de janelas, relocação da copa, além de projeto elétrico e de iluminação .
Na ocasião da execução, a primeira coisa que pedi a turma quebra-quebra foi  para abrirem as janelas da parede dos fundos. Num instante, a energia do lugar se transformou. Abri os olhos da sala!!! E uma linda paisagem se descortinou... árvores, som de crianças brincando e a surpresa de um beija flor que veio nos dar as boas vindas :)

Atrás do Shopping Parnamirim há uma área cheia de árvores e SEM PRÉDIOS resguardada entre um hospital infantil e uma escola pública. Pensei então que além de trabalhar a harmonização do ambiente, queria um escritório de arquitetura sustentável... Nada melhor do que um laboratório vivo para que pudesse fazer meus experimentos e viver na prática aquilo que oriento aos nossos clientes.

A PESQUISA / O CONCEITO

Passei a pesquisar, então, alguns exemplos de escritórios sustentáveis. Encontrei exemplos mundo afora, mas naquele ano ainda não haviam tantas ocorrências para o tema. Observei que muito se tratava de mobiliário reciclado, mas pouco sobre o conceito em si. Um exemplo, contudo, me chamou atenção: o escritório de arquitetura Selgas Cano, localizado numa floresta na região metropolitana de Madri.


Edifício em forma de tubo explora iluminação e ventilação natural.
Profissionais trabalham em contato com a natureza, inspirando novos projetos sustentáveis
http://www.selgascano.net/

No mais, a abordagem de uma empresa sustentável se aplicaria perfeitamente a um escritório de pequeno porte. *Ver post:
http://www.lucianaraposo.blogspot.com.br/2013/01/arquitetura-de-uma-empresa-sustentavel.html

Em suma, o conceito de ESCRITÓRIO mais SUSTENTÁVEL pode se definir como aquele que minimiza seus aspectos / impactos ambientais negativos: consumo de energia; geração de resíduos; consumo de matéria primas, geração de efluentes e emissões atmosféricas.

Além disso, é importante ressaltar que as ações não podem estar somente dentro dos limites físicos do escritório, mas sim abarcar seu entorno e os aspectos socioambientais da cidade. Assim, a busca é valorizar a cultura local; respeitar as diferenças; garantir acessibilidade a todos; estimular alternativas modais; estimular a reciclabilidade de produtos; se envolver em ações coletivas / comunitárias; proporcionar um ambiente saudável aos colaboradores e; criar parcerias com fornecedores que possuam a mesma política ambiental.

Pode parecer muita responsa, mas quando se internaliza estes conceitos tudo flui naturalmente ;)

É nisso que pensamos quando estamos projetando para o cliente e é assim que o processo foi sendo construído nestes dois anos e meio em que ocupamos na Sala 117. 

Lay Out da sala 117


Este processo contínuo, que exige pesquisa e "paciência" aborda vários pontos estratégicos, alguns deles, descritos a seguir. 

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

  • Exploração da iluminação natural: Além de receber ventilação predominante, as novas aberturas possibilitaram mais claridade, o que nos faz acender as luzes apenas no fim da tarde.


Antes e Depois: Vista dos fundos da sala - Luz e Verde
  • Substituição de todas as lâmpadas por econômicas e LEDs, além da inclusão de novos circuitos para permitir opções de iluminação sem desperdício.




  • Criamos uma luminária simples e eficiente com lampadas LEDs no local onde abrimos plantas para apresentação de projetos.
    As lampadas LEDs ainda são mais caras do que as tradicionais,
     mas tem maior vida útil e consomem menos energia.
    O custo da luminária compensou : fio e bocais bem em conta ;)
    *Para Fábio não dizer que não dei o devido crédito :P
  • Trocamos o SPLIT que estava subdimensionado por outro selo Procel A. O sistema Inverter seria ainda mais eficiente e fará parte do próximo investimento no pav. superior.

  • Energia Fotovoltaica: Este tópico não pude implementar, mas se o imóvel fosse próprio consideraria este investimento tendo em vista a eliminação do custo mensal com a concessionária. Energia fotovoltaica (não confundir com energia térmica solar) já foi algo extraordinário para nossa realidade por conta do investimento inicial. Algumas políticas, contudo, tem mudado esta realidade. A resolução 482 / 2012  regulamenta a geração de energia para auto consumo. Isso significa que posso ser 100% autosuficiente e ainda transferir o crédito do excedente gerado para uma segunda unidade, como a minha própria residência. Outro ponto a destacar é o incentivo a implantação do sistema voltado as MPEs previsto para 2015 através de linhas de crédito. Algo a se pensar tendo em vista o aumento de 37% na conta de energia...


REÚSO DE MATERIAIS / GESTÃO DE RESÍDUOS

O conceito de reúso na arquitetura pode ser bem amplo. Aqui tratamos a questão através do aproveitamento / repaginação de móveis, tanto os que já possuía na outra sala quanto na confecção de novas estruturas.

  • Repaginação da mesa de vidro: aproveitei cavaletes brancos pintando-os com spray vermelho. 





  • Bancada de computadores: aproveitamento de duas portas em madeira revestindo-as em laminado preto.
  • Mesa reunião: Sempre quis uma mesa redonda para reunir grupos. A ideia era, então, aproveitar um carretel de fios para o uso. Ideia simples, mas tive que rodar muuuuito para encontrar um que se adequasse ao tamanho necessário. Rodando pelos ferro-velhos e depósitos da cidade, fomos encontrar no Cabo um carretel que comprei por R$100,00. Na verdade, quando está pronto tudo parece muito simples e barato e de fato é, mas a dificuldade nestes casos está mais na garimpagem do que na execução em si.  Por isso também desisti de utilizar caixas de feira como nichos. Procurei em todo canto porque tinha visto belas composições nos blogs de decoração, mas na prática não encontrei caixas usadas. Soube na Ceasa que caixas de madeira não estão mais sendo utilizadas tendo sido substituídas por galéias plasticas.  Comprar caixas novas, então, fugiria ao conceito de reaproveitamento

  • Móvel Pallet: Este sim foi outro desafio porque em 2012 não conhecia empresas que trabalhavam com esses móveis em Recife. Então, peregrinando mais ma vez, conheci a MUNDO MERCANTIL, que topou executar meu projeto desmontando alguns pallets utilizados para engradados. Bruno Victor foi showwww!!! Fez tudo do jeito que projetei e ainda viabilizou minha fachada também em pallets.


Projeto do móvel: módulos soltos possibilitam vários tipos de arrumação.
Bruno e equipe montando os módulos.


Tudo pronto e em pleno uso!

Fachada da sala 117 ;)

  • Divisória madeira demolição: Já em 2014, a ECOHUS do nosso parceiro Rafael Vaisman me forneceu as prateleiras em madeira de demolição para o novo móvel do escritório. Utilizei um verniz de baixo impacto e mais eficiente comparado aos demais que encontrei no mercado (Montana). 
                             
                               Projeto do móvel
  



Hora da montagem

  
Hora do verniz com minha ajudante Luna

Para o fechamento do móvel, optamos pelo cobogó para uma composição meio mobiliário / meio arquitetura. Buscamos, então, peças em cerâmica, em vez de concreto (maior impacto ambiental) e as pintamos com tinta preta a base de água. Assim conseguimos um móvel funcional e ecológico sem perder a permeabilidade do espaço.


Trabalho braçal tb é arquitetura !!! :P
E finalmente encaixamos os blocos nas prateleiras (sem agregado - estão soltos mesmo) criando um mix / mosaico de formas em referência a cultura genuinamente pernambucana do elemento vazado.




Além do mobiliário, a preocupação com os resíduos partem de ações simples de gestão. A nossa parceira Luciana Meira junta todos os papeis gerados em nosso escritório para doar ao HC assim que enche o coletor.

Outras pequenas ações estão no aproveitamento de papeis usados para confecção de blocos de rascunhos; na compra de produtos de limpeza a granel para evitar geração de várias embalagens pequenas, entre outras questões.

O mais importante para a gestão dos resíduos em nosso condomínio, contudo, ainda deve ser feito, mas numa escala maior do que as ações individuais de uma sala ou outra: a implantação urgente da COLETA SELETIVA no Shopping Parnamirim. Os funcionários recolhem nossos resíduos duas vezes ao dia, mas é tudo misturado o que dificulta até mesmo a ação de catadores. Para piorar, os sacos de lixo são expostos na calçada do condomínio bem antes do caminhão vir recolhê-lo. Já vi várias vezes esse cenário nas calçadas da Rua João Tude de Melo.  Um prejuízo para a cidade, para o cidadão! 

Lixo nas calçadas do nosso shopping :(
PRECISAMOS MUDAR ISSO!!!

NATUREZA NO ESCRITÓRIO

Uma coisa que me faz falta dentro de ambiente fechado é planta natural. Por isso faço meu paisagismo em vasinhos e deixo meu local de trabalho mais alegre e VIVO de verdade :)


Minhas meninas...

Além de belas, qualificam o ambiente de trabalho


BICICLETÁRIO

Quem leu post de setembro do ano passado já sabe que aderi ao "de bike para o trabalho" sempre que posso. Isso significa deixar meu carro em casa pelo menos três vezes na semana. Aqui no estacionamento temos um bicicletário precisando de alguns poucos reparos, mas pelo menos fica na sombra ;) O pátio de carros é enorme, mas por ora pouca gente vem de bike apesar de termos uma localização bem centralizada. Além das de alguns trabalhadores, tenho visto novas bikes por aqui, inclusive a de Malu, a filha de minha sócia que está estagiando numa agencia aqui ao lado e só chega no pedal. #new generation é assim ;)

Centenas de automóveis  para cada dezena de bicicletas: isso ainda vai mudar!



ESCRITÓRIO + SUSTENTÁVEL

Cada ação aqui apresentada mostra, na verdade, uma busca contínua pela melhoria do ambiente construído, que reflete consequentemente no ambiente natural. De fato conseguimos reduzir um pouco de nosso impacto negativo ao meio ambiente. De fato construímos um local com harmonia e identidade. Mas sabemos que nada disso é estanque porque o ideal é sempre uma busca. E quando você acha que chegou lá é hora de REPENSAR! 

Medidas simples são capazes de transformar um ambiente, mas para isso é preciso gestão! Ter consciência de que tipo de prejuízo uma atividade gera ao meio ambiente é o principal ponto de partida para melhorar o seu equilíbrio com o próprio entorno. Falamos no aspecto social - no macro - e no aspecto econômico porque sabemos que nada disso seria sustentável se estivesse dissociado socialmente ou se fosse inviável financeiramente. Acontece que este equilíbrio exige o maior jogo de cintura... e por isso exige também um olhar atento e sensível.

O baixo investimento financeiro das soluções que apresentamos é inversamente proporcional ao tempo e pesquisa de garimpagem que exigiram. Mas ora, e quem está reclamando do trabalho... Melhor do que comprar um modulado pronto que vem lá do Rio Grande do Sul é encontrar no dia a dia a matéria-prima nossa própria construção, seja pessoal ou arquitetônica ;) 




A sustentabilidade é uma vivência... só funciona assim! 
A gente projeta, mas é a Natureza quem transforma ;)



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fantasias e Sustentabilidade: Viva o Carnaval 2015 !!!

Explorando o mote da sustentabilidade através de trabalhos manuais criativos resolvi confeccionar uma fantasia ecológica para o Carnaval 2015. Para isso fiz algumas pesquisas e encontrei um concurso com boas ideias para o tema.
Fonte: http://jmeioambiente.blogspot.com.br/2011/02/fantasia-sustentavel-para-brincar-o.html
Pensei então em que materiais utilizar, logo chamei a responsabilidade a minha amiga Aninha - aquela que executa as ideias mais loucas em PET e qualquer resíduo que se transforma em arte via LIXIKI 

http://lixiki.com.br/2010/02/fantasias-que-respeitam-o-meio-ambiente.html


Garrafas PET; tampinhas de latas de alumínio; tampinhas de cerveja e refri; canudos; sacos de lixo; e embalagem tetra pak de suco: a matéria-prima estava identificada! Faltava o projeto:


croqui da ideia inicial
Com a ideia esboçada, convoquei o MST - Meninas do Samba Top - para o cortejo da Ecochata e logo iniciamos a campanha de coleta de resíduos.

  • As flores e pulseiras em PET foram confeccionadas pela Lixiki;
  • As tampinhas de alumínio foram doadas por Tia Lidu, mãe de Mona e Kai; pelos churrascos da Liga da Mães/Pais exBabyHome e por Luna, minha filha que já não pode ver um resíduo sem trazer para casa pensando em fazer Arte ;)
  • As tampas metálicas foram doadas pela  cervejaria Capitão Taberna e as de PET pela AMAPE;
Mandamos fazer, então, a base da fantasia em tecido tipo estopa - aquele que se faz ecobag - com babados em saco de lixo reciclado, já que toda saia neste material não seria resistente ao nosso calor humano. 

Para confecção do cinto realizamos os seguintes passos:

  1. Cortamos as embalagens de Tetra Pak em tiras
  2. Fizemos furos com estilete para encaixar as flores de PET;
  3. Fizemos correntes com fitas coloridas e tampinhas de alumínio;
  4. Aplicamos as tiras de tetra pak alternado as faces sendo presas com tampinhas coloridas;
  5. Amarramos as fitas nas tiras;
  6. Prendemos tudo com ilhoses (Mercado da Encruzilhada);
  7. Pintamos as setas verdes com cola colorido brilhosa;
  8. Arrematamos o cinto com fita verde.







Para a blusa:

  1. Peguei um molde com o símbolo da reciclagem, decalquei num acetato e apliquei nas blusa com tinta de tecido e acabamento em cola colorida;
  2. Fizemos as mesmas fitinhas coloridas e aplicamos tampinhas para prender em cima;
  3. As flores tiveram que ser serradas e depois coladas com cola quente, mas podiam ter sido costuradas se tivesse a a habilidade Rsss





Para a tiara:


  1. Aplicamos tampinhas no centro das flores;
  2. Confeccionamos flores de saco de lixo;
  3. Colamos tudo com cola quente e incluímos canudos na composição.

Depois de muito trabalho e dias de confecção no "barracão do MST", preparamos as 5 fantasias de adulto e 2 de crianças. Tudo artesanal e ecológico. Mesmo que simbolicamente conseguimos reduzir um pouco do impacto ambiental negativo de nosso carnaval. Ao todo foram aplicados nas fantasias os seguintes quantitativos:


  • 25 caixas de Tetra Pak
  • 100 tampas de garrafa
  • 100 tampas de PET
  • 1000 tampinhas de alumínio



Agora é curtir o carnaval!!! Olha o Bloco da Ecochata aí gente!!!


Rumo ao RecCity \o/

Minha Eco-lindinha :)

Amiga Kainara desfilando em Olinda

Todo charme da amiga Monara ;)

Juli e Bia no Bloco da Ecochata!!!



terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Pedalando em Fernando de Noronha

Sempre que planejamos uma viagem de trabalho à Noronha, eu e minha sócia Carmen incluímos uma certa verba para deslocamento sabendo que, mesmo com toda brodagem do povo da Ilha - que sempre oferece carona  - os táxis tem um custo bem superior ao de Recife considerando as pequenas distâncias e os ônibus só valem a pena se estivermos passando por perto, já que o intervalo de meia hora entre um e outro é um bocado para quem não está de férias por lá.

Em uma semana atendendo várias empresas sendo cada uma em um extremo, então, a questão da mobilidade se torna estratégica. Isso para nós que passamos pouco tempo, mas para o morador que precisa se deslocar todo dia e para o turista a lazer que não está disposto a alugar buggy todo dia, o jeito usar os modais disponíveis e caminhar ao máximo possível aproveitando aquele sol de rachar maravilhoso Rssss

Foi assim que a gente sempre se virou por lá, mas nesta última visita tivemos uma experiência um pouco diferente: alugamos duas bicicletas e fizemos deste o nosso meio de transporte durante os últimos dois dias ;) Haaaaaaa.... mas bike naquelas ladeiras, ninguém merece Tcharãnnnn:  Bikes elétricas – três velocidades num pitoquinho e seus problemas acabaram!!!

Chegamos a estação da #EcoNoronha no Projeto Tamar para experimentar a danada e como disse Ana -a instrutora - “ela (a bike) tem vida própria”. Nos orientou quanto ao manuseio e ofereceu o capacete que, como de costume, não aceitamos  #transgressãonaIlha :P
Ana instalando as baterias na possante ;)


Ambientadas, seguimos pela pista até a Praia do Meio. Tudo perfeito no asfalto, já na pista de barro, atenção redobrada por conta da trepidação.  A minha ideia era ligar a elétrica só nas subidas e fiz isso por um tempo, mas senti os 25k a mais da bateria, além do peso da mochila, e apelei para o motorzinho em alguns percursos planos também. Nem por isso escapei do deslizamento das pedras e tombei quando voltava por trás do Palácio. Mão roxa, pernas e pé arranhados... normal: levanta, respira e segue ;)


 


As bicicletas elétricas são parte das ações integradas ao Plano Noronha Carbono Neutro, uma iniciativa do Governo do Estado em parceria com outras entidades que tem como objetivo a neutralização dos GEEs gerados na Ilha.  Apesar de  terem chegado no arquipélago desde meados do ano passado, muitas pessoas - inclusive ilhéus -  não conheciam o sistema das bikes elétricas e nos parava para perguntar: “funcionava mesmo???”"quanto custa?" (R$25,00 a diária para turista e R$17,00 para morador).

O esquema deu tão certo que sugeri a Carmen o que ela jamais faria em Recife: ir a balada de bike. E quem mais topou??? Rssss Já me aventurei algumas poucas vezes a voltar sozinha das festinhas no pedal, mas fazer isso sozinha na noite recifense é algo que uma moça em sã consciência deve evitar. Ocorre que estávamos no paraíso e essa é uma das melhores coisas da Ilha: liberdade para IR e VIR !!!

Voltar para casa pedalando altas horas, sem bafômetro, sem trânsito, com vento fresco no rosto, em segurança e com um céu lindoooo (o meu é sempre o mais lindo do mundo mesmo ;)  é de fato um privilégio que só teríamos em FN.

Sendo assim, saímos num breu da gota até a Praia do Cachorro improvisando a luminária da bike com a lanterna dos celulares. Deixamos as bicis  amarradas com um código “ultra-secreto” (0000 Rssss) e fomos ao reggae. Carmen voltou depois  e recomendou cuidados com os insetos  que entravam nos olhos.

Quis ficar... afinal não são todas as noites estreladas de lua crescente que posso me dar ao luxo de pedalar como quem voa e sentir toda LIBERDADE do mundo como o vento que rasgava no meu rosto... Sei lá que horas eu e a minha Shineray voltamos contemplativamente até a Pousada com direito parada no Porto e pedalada pelo deck (e atolamento entre as madeiras também) Rssss

No dia seguinte as reuniões  de trabalho já tinham concluído e pudemos aproveitar o dia. Pedalamos até duas últimas empresas e seguimos às trilhas. Estava com nosso material de projeto na mochila e senti falta de uma cestinha na bike para aliviar o peso, já que a trepidação não segurava no bagageiro.  
Começamos pela mais longa trilha da ilha, a do Capim Açu. É claro que não ia dar tempo tendo em vista que o vôo saia logo a tarde. Pedalamos até quase o ponto limite para bicicletas. A partir de então era proibido seguir, mas mesmo que não fosse, de boa admito, guentava mais não :P Muiiiita pedraaaa!!! Deixamos as bikes e seguimos a pé. Depois fomos à Cacimba e praias seguintes naquele sobe e desce trepidante-te-te-te-te... nada que as paisagens estonteantes não amenizassem.



Hora de devolver as bikes à EcoNoronha e a bateria ainda estava a todo gás. Ana perguntou: "E aí...ela não tem vida própria??” rssss Total !!! Mas tem que ser mesmo, se a ideia é disseminar a ciclocultura na Ilha, alternativas aos automóveis precisam  ser disponibilizadas.

Massss.... O ideal é pedalar sem consumir energia/bateria, né???  CLARO!!!  Bicicletas disponibilizadas sem queima de combustíveis fósseis??? SIMMMM!!! Contudo, todavia... enquanto o ideal dos ideais não acontece (energia limpa nas bikes elétricas) ou uma super performance pedalística (estilei alguns pontos até com a elétrica, num vou mentir...) continuarei buscando o CAMINHO DO MEIO e achando essa iniciativa muito MASSA!!!

Adoramos a experiência. Mais uma inédita para nossas aventuras na Ilha ;)  Valeu Pablito!!!


Que o  Plano Noronha Carbono Neutro, cujo Inventário de GEEs foi apresentado na Semana do Clima PE, seja implantado junto as várias ações/entidades a que estão interligadas (Promob, Pedala PE, passeio ciclístico, oficinas  etc);  Que a ideia de ampliar a oferta de bikes elétricas ou não, alugadas ou não se concretize; Que haja a minimização dos impactos ambientais negativos com as novas usinas fotovoltaicas (10%da energia da ilha vindo do sol em 2015) e redução da queima de combustíveis fósseis pelos autos ; Que a ciclovia seja implantada não só com vistas ao turista, mas sobretudo como modal ao morador da Ilha; Que a cultura da bike tome conta de Fernando de Noronha e, quem sabe um dia, seja o seu principal meio de transporte.

Simbora que quando voltarmos o desafio será subir o Morro do Pico no Pedal. Topa?



domingo, 28 de dezembro de 2014

Um dia Sem Carro

Texto postado no meu perfil do Facebook no dia 26 de setembro de 2014


Um desafio nada mal para quem trabalha perto de casa e curte pedalar (pelo menos nos fds;). Tão fácil que até hoje nunca foi feito 
‪#‎NhammmTudo bemmmmm aceito críticas, tenho até sofrido bullying pelo fato de defender a mobilidade urbana verbalmente, mas não abrir mão do meu ar condicionado do carro, mesmo em pequenos percursos. 

A vida tem, contudo, me jogado do lado de lá (ou sou eu que tô me jogando mesmo :P) e esse outro lado tem muito mais a ver com a Luciana- essência, aquela de outrora que se perdeu um pouco na roda-viva do trabalho-casa-filhopequeno-familia-trabalho-casa-e-por-ai-vai

Uma das coisas que me faz lembrar a liberdade da infância/adolescência é o vento no rosto. Eu tinha uma Cecizinha branca com uma cesta que dava para levar meus gatos para passear. Saia pelas ruas de Olinda sem destino, passava pela praia, na casa das amigas, saia SEM MEDO e COM TEMPO. Isso é liberdade! 

Recentemente a onda de bicicletas que tomou conta da cidade trouxe junto um pouco daquela Lu que eu tinha esquecido. André Moraes me disse ontem que uma intervenção urbana começa de dentro do indivíduo, depois é que vai para fora. E num é... E eu tentando fazer o contrário..ê-eim  

Só que agora foi. Carmen começou a me puxar para pedalar aos domingos. Depois arrastei as Meninas do Samba* para conhecerem o Caldinho do Mago no Pina. Com o 
‪#‎OcupeEstelita instalado no Cais, então, o programa de bike era certo. O Recife mudou muito. E rápido. Acho que ele está no mesmo percurso cíclico da velha/nova Lu, se redescobrindo, resgatando as ruas, as praças... sob a energia do sol e do vento no rosto. 



O dia mais chatoso é hoje o melhor dia da semana para mim. Nada de shopping nos domingos (nunca gostei mesmo), tampouco passar 4 horas dentro de um restaurante e perceber que já está escuro na hora de voltar para casa. O sol tem que durar mais...pq o sol é a vida! E a gente só sabe disso do lado de fora .

Mas porque esperar o fds, então, se posso ter um pouco disso em plena segunda,terça ou quinta??? Porque não se render a simplicidade voluntária que posso ver num Buda ou apenas num menininho? Ai veio a história do Caracol... da casa, do peso nas costas, dos apegos... E do tempo.

Hoje, dia 26 de setembro, saí de manhã para mais um dia de trabalho, só que desta vez SEM CARRO. Assumi este desafio simples, mas simbólico, por conta do Semana do Trânsito e do Dia Mundial Sem Carro, fatos reforçados pelo bombardeio dos cicloativistas desta cidade.

Já passava das 8h quando Mary me viu saindo e perguntou: “A senhora vai para onde de bicicleta com essa roupa? “ (Para o trabalho, ué... ) “Misericórdia, nesse calorrr??? Mil vezes o desafio do balde de gelo na cabeça. “ Rsssss

Então... fui. Fiz minhas coisas, saí para almoçar, voltei para o escritório, depois vim para casa. Inteira! Feliz J

O resumo desta aventura está nos vídeos mega-mal-editado postados aqui. Quem sabe consigo convencer você também ?!  
‪#‎SimboraRecCity ‪#‎CidadeparaTodos  ‪#‎Desafioquemfoimarcado



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nova vida para a Praça do Arruda

Em 2011 inaugurei este blog com um artigo sobre o Canal do Arruda onde relatei a experiência de ter trabalhado junto aos meus alunos da disciplina de paisagismo - Faculdade Maurício de Nassau – no diagnóstico e projeto de requalificação da área. 

Uma das equipes propôs uma reformulação geral da Praça Antônio Luiz, conhecida como Praça do Arruda e localizada nas margens do Canal, á Rua Profº José dos Anjos. 

 
Vista aérea da Praça do Arruda (Google,2011)
Algum tempo depois quando passava lá por perto, vi que a Praça do Arruda havia sido reduzida em sua área para dar lugar a uma UPA. Nobre função se fosse pelo fato de a obra encontrar-se abandonada há meses, assim como o que sobrou da Praça.


Em 2012, na ocasião da confecção de propaganda política, a PCR autorizou a destruição do que sobrou da Praça Antônio Luiz. Com o argumento de fazer uma reforma, quase todas as árvores foram arrancadas e os poucos bancos e platô para atividades culturais foram demolidos.

Fonte: ONG Pé no Chão

Entulho vira brinquedo no Arruda

Deste momento até o presente, nenhuma melhoria foi observada na área. Mesmo estando na zona norte, tão próximo à bairros nobres da cidade, a área parece estar á margem da sociedade.  E por isso convocamos mais um grupo de alunos para abrir o olhar ao local.

Nesta ocasião, eu e a professora Luciana Santiago reunimos nossos alunos da disciplina Plástica II da Faculdade ESUDA para trabalhar novas propostas para a Praça em questão. No início alguns tiverem receio de entrar na comunidade para entrevistar, conhecer, levantar os problemas reais da localidade, mas depois do primeiro contato essa ideia foi desmistificada e puderam imergir no âmbito sociocultural deste pedaço do Recife.

Slide parte do seminários de um dos grupos

Uma vez sensibilizados, os alunos partiram para criar suas propostas de revitalização para a Praça. Passamos quase 3 meses trabalhando nisso. Considerando que o campo de futebol de areia existente seria hipoteticamente locado onde era antes da UPA, os alunos propuseram novos conceitos ao local. As intervenções contaram com o design de mobiliários, equipamentos e um novo traçado paisagístico.

Cada grupo teve a sua proposta que foi defendida e apresentada em sala juntamente a uma maquete para ilustrar as ideias. O apoio à cultura local foi um ponto forte, assim como às atividades esportivas. Alguns criaram parquinho infantil, outros focaram na replantio da vegetação nativa. Uns pensaram em pista de skate, outros em mesas de jogos e áreas contemplativas para arte, como pátios de esculturas com material reciclado e muros grafitados pela comunidade. 

Enfim, difícil é não imaginar aquela área mais linda, lúdica, sustentável, acessível, cultural e artística depois de tantas ideias criativas. O problema é que os estudantes de arquitetura estão acostumados a fazerem trabalhos maravilhosos e muuuuuuito trabalhosos que ninguém vê, ninguém sabe, além de quem ta perto...

Ultimo dia de aula: entrega das maquetes e apresentação.

Pensando nisso, viabilizamos uma exposição de maquetes no hall do Estádio do Arruda para que a população posso vislumbrar aquele espaço de uma outra forma. Já que o Brasil inteiro acordou, que o povo recifense desperte também para os problemas sociais que estão tão perto a nós.

Em nossas pesquisas, não identificamos o projeto que a Praça do Arruda se submeteria em 2012.  Além da ação dos vândalos, a comunidade assistiu retroescavadeiras e moto-serras arrasarem o pouco do espaço público que lhes restou iludidos com promessas de campanha.  

Hoje, Cabe a nós cidadãos a consciência de lutar pela defesa dos espaços públicos e coletivos de nossa cidade. Esta iniciativa não é um protesto, mas uma ação esperançosa de sensibilizar a população a se apropriar do que lhe é de direito;)  #VempraEXPO  #VempraRUA #VidaNovaPraçadoArruda